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Mostrando postagens de janeiro, 2005

Cá entre nós

por Henrique Matos Ainda não se entende como ou porquê, só se sabe, aqui entre os que creram, que ele sabia. De um jeito muito simples, ele olhava e sabia. Hoje compreendemos, ele sabia porque amava. Mas, porquê amava, ninguém sabia. De um modo direto e muito humano. Era como se aquele simples olhar consolasse toda dor, seu toque sutil tirasse todo peso, sua voz calma penetrasse os lugares mais escuros da alma. Ele sabia tudo o que pensavam e sentiam, mas isso não trazia medo a ninguém, ao contrário, era o grande consolo e a certeza de que sim, ele era o Messias. E seu poder era transformador. Não era como o de um super-herói dos quadrinhos, que se concentra em uma pessoa e sonda o seu interior. Também não era como um robô da ficção científica que não vê carne ou sangue, somente imagens em dimensões digitais. Sim, ele era Deus, totalmente Deus. Mas aqui, cá entre nós, ele era homem, completamente homem. Vivendo entre homens, comendo com homens, dormindo ao lado de homens. Apenas homens

Enquanto você dormia

por Henrique Matos Quantas coisas não fiz enquanto você dormia? Durante seu sono profundo, o respirar tranqüilo, os sonhos vindouros que providenciei, o aconchego do descanso merecido e renovador. Enquanto dormia me prontifiquei a trabalhar por você. Escalei querubins para lhe entreter com cânticos e música. E estive batalhando em seu favor. Você já não precisa se preocupar, não, não é isso que quero de você. Tão pouco pretendo ver-te humilhado, sacrificando-se por coisas mínimas. Já te disse uma vez, outra repito: não fique ansioso quanto ao dia de amanhã ou o que haverá de comer ou vestir, empenhe-se em buscar o meu Reino, em primeiro lugar. Antes de você deitar, entenda, eu ouvi cada palavra de nossa conversa, me curvei para escutar seu sussurro, sondei o mais íntimo de seu coração e olhando nos seus olhos, sei bem o que se passa nesse peito aflito. Querido, já tenho comigo todas as suas necessidades e anseios e creia, eu cuido de cada detalhe. Filho, o que reservo para você é maior

Como uma onda

por Henrique Matos “Tissú o quê!?” foi minha primeira reação. Então ouvi: “Tsunami, nome japonês para ondas gigantes”. E tão estranho quanto o substantivo, é a capacidade destruidora e imprevisível de sua ação. Até o momento em que escrevo essa mensagem, já são quase 150 mil mortos no sul da Ásia e doze países atingidos pelo maremoto que deixou mazelas que, segundo a ONU, demorarão de cinco a dez anos para serem restauradas. As vítimas, segundo o previsto, podem chegar a um milhão se forem considerados o número de desaparecidos e as doenças que surgem em função dos estragos. Mas agora, a expressão japonesa não é só sinônimo de tragédia mas também de nova vida. No dia da catástrofe Namita Rai estava em sua casa na Ilha de Hut Bay. Quando perceberam o terremoto, ela e o marido Laxminarayan Rai fugiram em direção ao bosque. Namita estava grávida de oito meses. Na correria desesperada ela caiu no bosque e ali deitada, um mês antes do previsto, seu filho veio ao mundo. O pai registrou o men