Um instante
por Henrique Matos Ele abaixou a cabeça e retirou-se angustiado. Seus olhos marejaram, a garganta travou e seu peito doía incessantemente. Então se isolou, entregou-se e chorou. Percebeu o que havia feito, que grande bobagem! Como era possível? Há poucas horas suas palavras eram outras, sua firmeza surpreendia, sua fé impressionava. Era uma rocha! Mas agora, era a escória dos homens, um pecador imundo, em nada o santo ou escolhido dentre tantos. As lembranças dos últimos meses lhe vinham à memória. As grandes aventuras, as experiências de uma nova vida, pescador de homens. Eram muito nítidos aqueles três anos. Surgira entre eles mais do que um relacionamento disciplinar de mestre para servo, tornaram-se amigos íntimos. Partilhou suas dificuldades, foi franco com suas dúvidas e sentimentos - por vezes até controversos. Foi fraco, foi homem, foi filho e foi irmão. Viajaram juntos, percorreram toda a Galiléia e a Judéia. Dormiram no deserto, andaram milhas e milhas, comeram da mesma panel