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Mostrando postagens de outubro, 2004

Um instante

por Henrique Matos Ele abaixou a cabeça e retirou-se angustiado. Seus olhos marejaram, a garganta travou e seu peito doía incessantemente. Então se isolou, entregou-se e chorou. Percebeu o que havia feito, que grande bobagem! Como era possível? Há poucas horas suas palavras eram outras, sua firmeza surpreendia, sua fé impressionava. Era uma rocha! Mas agora, era a escória dos homens, um pecador imundo, em nada o santo ou escolhido dentre tantos. As lembranças dos últimos meses lhe vinham à memória. As grandes aventuras, as experiências de uma nova vida, pescador de homens. Eram muito nítidos aqueles três anos. Surgira entre eles mais do que um relacionamento disciplinar de mestre para servo, tornaram-se amigos íntimos. Partilhou suas dificuldades, foi franco com suas dúvidas e sentimentos - por vezes até controversos. Foi fraco, foi homem, foi filho e foi irmão. Viajaram juntos, percorreram toda a Galiléia e a Judéia. Dormiram no deserto, andaram milhas e milhas, comeram da mesma panel

O silêncio

por Henrique Matos O silêncio. Se tem algo na crucificação de Jesus que me espanta é o silêncio. É claro que dia após dia ainda me sinto comovido com todo o propósito de Seu sofrimento por nós e a salvação que há n'Ele. Mas esse fato (como Ele mesmo diria) já "está consumado" nos corações e na história. Mas o silêncio... Porquê Ele não falou nada? Porquê sofreu quieto, sem reclamar ou se defender? Porquê não condenou aqueles pecadores que blasfemaram e não quiseram crer? E se ali, na cruz, Ele dissesse: "Estou aqui por causa de vocês, ingratos. Estou morrendo no seu lugar!" Isso mudaria alguma coisa? Ele deixaria de ser o Filho de Deus e Salvador da humanidade? Mas preferiu sofrer quieto. Em Suas últimas horas neste mundo não pregou o arrependimento, nem falou de morte ou ressurreição, não realizou milagres e tampouco se defendeu. E tantos à sua volta o agrediam com palavras, socos, pontapés, chibatadas, pregos, cravos. Foi humilhado, não reagiu e todos que se d

Amigo de pecadores

por Henrique Matos Ele ainda é amigo de pecadores. Ainda senta-se à mesa com os publicanos e circula por aí falando com mulheres samaritanas, prostitutas e adúlteras. Ele ainda chama revolucionários para serem discípulos e pescadores de peixes para fisgarem almas. Escolhe jumentos para o conduzirem em meio ao povo, ainda visita a casa daqueles que ninguém mais gosta e prefere a simplicidade à tradições vãs. Ele ainda cura, liberta e salva os homens que a sociedade coloca à margem de seu padrão. Ele ainda conta histórias para entendermos as coisas grandes e sobrenaturais que enxerga com tanta clareza. Ainda nos alimenta com sua palavra renovadora e com pão e peixe multiplicados. Ele ainda chora por seus amigos, ainda remove pedras, montanhas e até ressuscita mortos. Ele ainda tem esperança em sua criação rebelde. Ele ainda sente o toque na orla de sua veste, sente o poder saindo de si e ainda se curva para os que o buscam com fé. Ele ainda faz barro para curar cegos, ainda seca árvores

Serviço de entrega

por Henrique Matos "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce" (Fernando Pessoa). Não costumo falar muito sobre evangelização. Para ser sincero, até sofro em saber que não sou muito eficiente na tentativa de levar Cristo às pessoas. Atrapalhado, começo tratando de princípios cristãos, passo por questões teológicas, divago a respeito da Criação e só então chego em pontos mais fáceis de se "digerir" como: salvação, perdão e (até que enfim) Jesus. Em geral, nesse momento, meu amigo já está a ponto de dormir. Sou um desastre, mas sinto-me confortado pelas Escrituras ao acreditar que estou "plantando a semente" e talvez encontre alguém por aí em que frutifique... E sabendo de Seu favor gracioso, que filho não é inspirado pelo mandamento do "ide" que Ele deixou a todos? "Se Ele fez tudo isso pela humanidade, porque então nem todos sabem disso? Preciso fazer a minha parte!". Esse é um pensamento correto e lógico, mas infelizmente não é tão comum.