Homens das cavernas

por Henrique Matos

"As cavernas não são o lugar oportuno para melhorar o estado de ânimo. Existe certa mesmice entre todas elas, não importa em quantas você tenha dormido. Escuras. Úmidas. Frias. Bolorentas. Uma caverna se torna pior ainda quando você é o seu único habitante..." (Gene Edwards no livro "Perfil de Três Reis", p. 39).

Quem já esteve em uma caverna entende o que o autor quer dizer. Não há nada de aconchegante naquela rocha, são locais cheios de infiltrações, irregularidades, insetos em suas cavidades, um ambiente gélido e desconfortável. Algumas não têm mais do que poucos metros de profundidade, já outras são tão extensas que mal se pode chegar ao seu fim. Definitivamente, não são lugares onde um homem possa viver em paz. Exalam a solidão, exaltam os ruídos com ecos espantados rasgando o silêncio assustador e as frias trevas em seu interior não são estímulos para a paz de espírito.

Uma caverna não é um lugar para se estar sozinho.

Em uma rocha dessas, em Horebe, o profeta Elias descansou após caminhar, fugitivo, por quarenta dias e quarenta noites. Deprimido, sem esperanças e fora dos planos que Deus havia traçado para seu ministério, entrou naquele lugar, deitou e não queria se levantar (já tinha inclusive, pedido a Deus para que tirasse sua vida). Foi ali, deitado, que ouviu então o Senhor chama-lo e dizer: "Que fazes aqui Elias?" (1 Reis 19:9).

Uma caverna não é um bom lugar para se viver.

* * *

Mas existe um outro personagem, em uma outra história. É o causo do pequeno homem que foi ungido rei sobre Israel ainda jovem, mas durante quase 20 anos precisou fugir do rei vigente que tentava lhe tirar a vida. O jovem Davi então fugiu da lança de seu perseguidor e por anos buscou refúgio nas cavernas, várias delas, por todo o território de Israel e vizinhanças.

Havia porém um fato diferente naquela ocasião. As cavernas de Davi eram certamente as mesmas, tão frias e solitárias como a de Elias e qualquer outra que possamos visitar. Mas aquelas fendas pareciam feitas em uma rocha firme, aconchegante e abundante em paz. Não pelo seu estado físico, mas pelo poder renovador que a preenchia. Davi morava em cavernas comuns, mas abrigava-se na Rocha, que é o Senhor.

E foi Davi, habitando em cavernas, que escreveu os mais belos salmos que ainda hoje nos edificam e consolam quando nos sentimos tal qual Elias: "O Senhor é a minha rocha, a minha fortaleza e o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo, em quem me refúgio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio" (Salmos 18:2).

Na Rocha Eterna nunca se está sozinho.

Eis uma boa nova: há um lugar seguro para nós. Quando nossos perseguidores parecem insaciáveis, quando nosso chão está prestes a ceder e o desespero sobe pelo nosso interior afligindo o coração que se aperta, há um lugar seguro: a Rocha na nossa Salvação. Ali, abrigados ao lado do Pai, sustentados por Sua mão poderosa, podemos encostar nossa cabeça e repousar nessa tranqüilidade inabalável.

"Confiai sempre no Senhor; porque o Senhor Deus é uma rocha eterna" (Isaías 26:4).

Abrigados na Rocha, esse é o melhor lugar para se viver. E a pedra angular – Jesus - nosso Salvador está a todo tempo com os braços abertos, prontos para nos acolher.

"Pois assim é dito na Escritura: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa, e aquele que nela confia jamais será envergonhado’" (1 Pedro 2:6). "Este Jesus é á pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular" (Atos 4:11).

"Não vos assombreis, nem temais; porventura não vo-lo declarei há muito tempo, e não vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas! Acaso há outro Deus além de mim? Não, não há Rocha; não conheço nenhuma" (Isaías 44:8).

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