Como uma onda

por Henrique Matos

“Tissú o quê!?” foi minha primeira reação. Então ouvi: “Tsunami, nome japonês para ondas gigantes”. E tão estranho quanto o substantivo, é a capacidade destruidora e imprevisível de sua ação. Até o momento em que escrevo essa mensagem, já são quase 150 mil mortos no sul da Ásia e doze países atingidos pelo maremoto que deixou mazelas que, segundo a ONU, demorarão de cinco a dez anos para serem restauradas. As vítimas, segundo o previsto, podem chegar a um milhão se forem considerados o número de desaparecidos e as doenças que surgem em função dos estragos.

Mas agora, a expressão japonesa não é só sinônimo de tragédia mas também de nova vida. No dia da catástrofe Namita Rai estava em sua casa na Ilha de Hut Bay. Quando perceberam o terremoto, ela e o marido Laxminarayan Rai fugiram em direção ao bosque. Namita estava grávida de oito meses. Na correria desesperada ela caiu no bosque e ali deitada, um mês antes do previsto, seu filho veio ao mundo. O pai registrou o menino três dias depois e chamaram-no de Tsunami.

É quase irônico. No dia 26 de dezembro de 2004 Tsunami nasceu no sul da Ásia.

Nada irônico, porém, são os comentários de alguns cristãos justificando a tragédia como sinal do “juízo divino” e com afirmações do tipo: “eles adoram não-sei-quantos-mil deuses, é normal que isso ocorra”. Fico me perguntando o que isso quer dizer. Será que estamos mesmo pensando que o pecado do homem despertou a ira de Deus? E falando em pecado, que diferença existe então entre a idolatria daqueles que – teoricamente – não conhecem a Jesus Cristo e a soberba dos que dizem adorar ao Senhor e agora se acham juizes dignos de condena-los?

De fato, esse não parece um gesto que Jesus teria. Talvez pensassem assim os fariseus judeus que Ele criticou por pensarem estar no centro do universo. Ou quem sabe, pensem assim os fundamentalistas cristãos que mesmo hoje, apoiam a cruzada ocidental contra países de predominância pagã. Ou até, os muçulmanos xiitas, que praticam seu conceito de “guerra santa”, que tantos de nós tememos e presenciamos.

“Misericórdia quero e não sacrifício” (Mateus 9:13).

Deus não quer nossa religiosidade, isso é discussão vã, o Pai só quer que vivamos como Jesus. E para isso, precisamos aprender que o seu Reino é baseado em amor e não em preconceito. Que está edificado sobre a Salvação e não em condenação. Em serviço e não mordomia.

Devemos ter gravado em nossos corações que a vida espiritual se faz em compaixão e não egoísmo. Em humildade e não soberba. Em generosidade e não avareza.

E por fim, compreender que o Reino do Pai está fundamentado na única razão de nossas vidas: em Cristo.

E em Cristo, sabemos que aquelas pessoas não precisam – tampouco merecem – da nossa condenação, juízo ou prepotência teológica. O povo vitimado na tragédia carece sim do nosso amor, tão forte e intenso capaz de formar outra grande e intensa onda, um Tsunami de misericórdia, justiça e paz.

É nossa missão levar o calor para quem sente o frio solitário da tragédia, o afago para a criança perdida, a providência para os que necessitam, o consolo para quem sofre a dor da perda.

Eles precisam do cristianismo que declaramos viver. Cristianismo em que fazemos votos de “amar uns aos outros como nos amamos”. E só o amor de Deus pode nos motivar a viver essa verdade.

Que nossos esforços estejam dedicados ao próximo, assim como Ele insiste. E amar é despender tempo, é partilhar o melhor, é viver em unidade. Como embaixadores do Reino, devemos usar nossas ferramentas para a honra de Deus. E “Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele” (1 João 4:16b). Nossa maior arma nessa guerra não está na acusação, mas na intercessão. Intercessão de quem ora, contribui, age...

Nesse momento, o importante é ouvir o pedido de socorro dos que clamam e lhes estender a mão. Antes que as vitimas se afoguem na água e na miséria e nós no nosso orgulho religioso e decadente.

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Sites com notícias sobre a Tsunami no sul da Ásia: Folha de São Paulo (www.folha.com.br), BBC (www.bbcbrasil.com.br), Yahoo! (www.yahoo.com.br) e Google News (www.googlenews.com).

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