Aos pés da cruz

por Henrique Matos

Aos pés de tua cruz eu me encontro. Vejo três delas e na do meio te observo, és Jesus Cristo, agonizando diante de meus olhos. Aí está teu corpo ferido e nu, a coroa de espinhos, a espera pré-morte e o peso de ver uma realidade que eu só ouvira em histórias.

Mal sinto a presença da multidão ao meu redor, homens e mulheres que há pouco bradavam por sua morte e agora silenciam. Centenas de olhos estáticos te contemplam, calados e temerosos pelo que há de vir. O que há de vir? Mais ao lado, tua mãe chora acompanhada de Maria Madalena e João, o discípulo que tanto amava.

Vejo tua face deformada, ouço seus murmúrios e suas preces derradeiras. Vejo o vinagre subir em uma esponja para matar tua sede. Na altura de minha vista estão os teus pés, sujos pela terra seca grudada no sangue que escorre de teu corpo. Penso por um instante que gostaria de poder lava-los.

O Senhor está cansado, as últimas horas foram difíceis.

Em teu tronco posso ver a marca dos chicotes que o açoitaram. Nos teus ombros vejo a carne viva e desgastada pela madeira da cruz que carregou. Quase vejo o dedo sarcástico de Satanás apontado em sua direção, rindo ao lado de sua corja de demônios. Mas confesso que não posso ver ou imaginar o peso maior desse sacrifício: ter em seu coração a culpa pelo meus pecados, os pecados de cada homem nessa multidão e também os de toda humanidade.

Como deve doer!

Mas eu não posso saber, eu não os senti. Nenhuma dor, nenhum castigo, nenhum peso pelo meu pecado, sequer uma pena de condenação. Jesus, só posso pensar, o quanto isso deve lhe consumir agora. Estão sobre ti os meus erros e isso já me parece imperdoável. Quanto mais não são todas, todas as culpas sobre si.

Como pode, o Senhor aí na cruz em meu lugar?

E além de tanto, além de tudo, por que ainda isso? Meu Mestre, incompreensível é olhar para ti e contemplar teus olhos entreabertos em minha direção. E te pergunto Jesus: por que me olha assim? Depois de tudo que fiz, por que me olha com amor!?

Eu jamais saberei, o quão pesada foi esta cruz que carregou. Minha cruz. E o que posso fazer agora?

Me resta, percebo, continuar olhando, gravando este momento para a eternidade e sim, eu sei que espera minha voz de arrependimento. Me deposito aos pés dessa cruz, me consagro e entrego a ti minha confissão: Jesus Cristo, eu te amo. Tu és meu Deus.

E morro contigo Jesus, para ao teu lado poder ressuscitar. E já não tenho vida Senhor, pois ela agora é tua. Aqui estou, toma-me para tua glória e faz-me um homem novo, à tua semelhança e essência.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O amor, um calção e gestos primitivos (cinco minutos antes de minha vida mudar)

Minha religião não permite

De mudança