As grandes conquistas do homem

por Henrique Matos

Desde criança, sempre acreditei que um dia eu faria algo que marcasse e mudasse a história das pessoas. Inventaria algo que fosse um divisor de águas na humanidade, uma salvação para os povos. Nunca soube direito o que seria, mas era um pensamento megalomaníaco qualquer.

Bem, preciso ser honesto antes de continuar essa confissão vergonhosa... pensamentos assim ainda me assaltam a mente. Sonhos impossíveis. Mas não são por vaidade, tão menos por orgulho. Esse sonho infantil, passava e passa por grandes feitos que tragam alegria para as pessoas. Eu diria então que é uma megalomania altruísta.

Quem sabe não seria um livro publicado mundialmente? Talvez um projeto de erradicação da fome. Uma canção tocante (ainda que eu seja inteiramente desprovido de ritmo e afinação). Ou, não seria eu um atleta nas Olimpíadas trazendo orgulho para minha pátria? Um grande artista? O vencedor de um Oscar para melhor documentário? Um prêmio Nobel da paz? Um líder político, um explorador espacial, um super-herói (por razões racionais esse último já não me vem tanto à mente)?

Bem, os amigos mais próximos são testemunhas de que nenhuma das opções acima fazem parte de meu acervo de dons e possibilidades. Mas foram e são sonhos, agora devidamente confessados. E só não me envergonho mais em escrevê-los nessa carta porque sei muito bem que você também pensa essas bobagens enquanto vive o ócio da vida comum, durante suas tarefas rotineiras, ao comer um pão com manteiga ou escovar os dentes em frente ao espelho.

A verdade é que nenhum de nós quer passar despercebido pela vida. Nós sonhamos! Queremos fazer algo que marque a geração em que vivemos. Desejamos ter a nossa saga particular e deixar uma lembrança para nossa descendência.

E foi há pouco, vendo um programa bobo de TV, que percebi que há algumas semanas eu estou sim, de maneira inimaginável, começando a escrever algo na história.

Serei pai. E daqui cinco meses uma garotinha (as chances são de 80%) sairá de dentro da minha esposa. Uma vida totalmente nova, inédita, um ser humano a mais no planeta. Uma pessoazinha de algumas gramas e centímetros...



E isso é muito mais do que uma estatística demográfica para o mundo, é o resultado da soma do que minha esposa e eu somos. É como se o amor que sentimos um pelo outro pudesse ser medido e se transformasse em algo que podemos tocar. Sim, amor tem tamanho e ela é a prova viva disso.

É a prova de que o amor cresce, engorda e se desenvolve. Ela será a nossa marca, uma assinatura que deixaremos no mundo. Uma ovelha no rebanho do bom Pastor. Daremos a ela um nome e nossos sobrenomes. Com os olhos em Deus, daremos a ela o melhor que tivermos e que não tivermos também. Na verdade, se necessário, deixaremos de ter para que nada lhe falte.

Eu sei muito bem que essa não é a história que estará nas prateleiras das livrarias. Não passará em horário nobre e dublado no canal de televisão de alguma emissora no norte europeu. Não será noticiada em primeira página. Também não a lerão as pessoas que não conhecemos, não ganharemos medalhas, prêmios ou condecorações por isso.

Mas quem se importa? Seremos pais e essa é a glória – que talvez venha ainda acompanhada de uma camiseta de “Super Pai” pintada a dedo na 2a Série, uma caneca feita de barro por aquelas mãozinhas finas ou mesmo um beijo melado na bochecha quando eu chegar do trabalho para jantar. Isso importa.

Valores importam porque são o que nos moldam. São nossa família. E aquilo que somos e vivemos, eu sei, refletirá nessa vidinha que hoje pulsa, se prepara e surgirá em nossa casa e inverterá as nossas vidas sem pedir licença.

Quando casamos, iniciamos nossa família. Mas agora sinto que estamos começando a história daquilo que realmente somos. E ainda teremos mais filhos, que nos darão netos e bisnetos e talvez até alguns tataranetos (quem sabe o que ciência não há de preparar até lá?).

E quando estivermos velhinhos, sentados em nossas cadeiras de balanço, tomando um chá com biscoitos (bem, acho que ainda gostarei muito mais de um Toddynho do que dos chás), esses pequenos resultados de nosso amor, virão nos visitar num fim de tarde ensolarado. E então, entre uma brincadeira e outra, contarei a eles sobre os grandes feitos que seu avô realizou.

Sim, poderão haver aventuras, viagens, expedições inter-espaciais. Poderei ostentar livros premiados, ações humanitárias e conquistas materiais. Curiosamente ou não, não tenho a mesma fé em relação a música e a carreira como atleta.

Poderei ser ali, nesse futuro imaginado, um homem marcante para as pessoas. Mas hoje, percebo e acredito, que a grande obra de minha vida será a mais simples delas. Uma vida vivida com amor, a Deus e à minha família. Os filhos como frutos desse amor simples e tão comum. Eles serão o símbolo da história, do nome. Será essa, afinal, a mais nobre das obras, a melhor das conquistas, o grande triunfo. E me alegrarei, realizado em saber (ah, como creio!), que eles foram muito além de nós nessa jornada.

Hoje, oro e espero fazer direito. Espero honrar a confiança de Deus Pai em mim e na minha Manú, porque Ele nos dará a chance – e o amor, a vontade e o desafio – de escrever a nossa história, de escolher como e por o quê seremos lembrados um dia.

“Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão dum homem valente, assim os filhos da mocidade. Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta.” (Salmos 127: 3-5).

Comentários

Paulo Brabo disse…
"Mas hoje, percebo e acredito, que a grande obra de minha vida será a mais simples delas".

As grandes obras são naturalmente as que apenas Deus pode apreciar; todas as outras se esgotam por terem em si mesmas "a sua recompensa". Quando somos em humildade e silêncio "nosso louvor não vem dos homens, mas de Deus".

Parabéns pela obra em andamento.

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